Desde o lançamento dos Princípios de Sustentabilidade em Seguros (Principles of Sustainable Insurance – PSI), em 2012, a diversidade e a inclusão têm se consolidado como atributo de inovação no setor de seguros. O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras – CNseg, Marcio Coriolano, define diversidade como “o conjunto de diferenças e semelhanças que caracterizam as pessoas e as tornam únicas, qualificando as empresas de seguros a oferecerem produtos e serviços para uma sociedade igualmente diversa”. Nesse sentido, a diversidade é propulsora de inovação de produtos e serviços no mercado segurador (CORIOLANO, 2017, p.3).
No âmbito das organizações, a diversidade e a inclusão são estratégias de negócio, afirma a CNseg: “quanto mais os funcionários se sentem incluídos, mais inovadores eles relatam ser em suas atividades. Perceber semelhanças com colegas de trabalho gera um sentimento de pertencimento, enquanto perceber as diferenças leva a um sentimento de singularidade”. Por estas e outras razões, a Confederação não tem medido esforços para promover debates sobre o tema (CNSEG, 2017, p. 6).
Com o objetivo de inspirar a adoção das melhores práticas de diversidade e inclusão no setor a CNseg criou, em 2017, o Grupo de Trabalho de Diversidade e Inclusão da CNseg, um dos braços de atuação da Comissão de Sustentabilidade e Inovação. Naquele mesmo ano o GT desenvolveu a “Cartilha Boas Práticas para Diversidade no Mercado Segurador”, lançada durante o Seminário Riscos e Oportunidades Emergentes.
Em 27 de setembro de 2018 a CNseg reuniu lideranças do mercado segurador brasileiro e internacional na 1ª Conferência Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros. O evento contou com a presença da então CEO do Lloyd’s, Inga Beale, a primeira mulher a ocupar o cargo na tradicional instituição inglesa, que até 1969 não admitia mulheres. Durante a sua gestão a instituição se modernizou e concebeu, em 2015, o “Dive In – The Festival for Diversity & Inclusion in Insurance”, que acontece no mês de setembro por meio de diversas ações ao redor do mundo.
Durante a 5ª. edição do Festival Dive In para Diversidade e Inclusão em Seguros, realizado em setembro de 2019, no auditório da Escola de Negócios e Seguros, em São Paulo, a Diretora de Relações de Consumo e Comunicação da CNseg, Solange Beatriz Mendes, por meio de vídeo exibido no dia 24, primeiro dia do evento, lançou o Dia da Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros, a ser celebrado anualmente em 25 de setembro. A iniciativa, foi desenvolvida pelo GT de Diversidade e Inclusão e pela Comissão de Recursos Humanos da CNseg, e contou com a aprovação e o entusiasmo do Conselho Diretor da Confederação. Na ocasião, a executiva e idealizadora da iniciativa ressaltou que a criação da data “tem o objetivo de celebrar o compromisso do setor com as melhores práticas de diversidade e inclusão de talentos na carreira de seguros, refletindo a riqueza demográfica, étnica, cultural e social do nosso país” (MENDES, 2019).
Ainda em 2019 a CNseg celebrou a 1ª Conferência de Sustentabilidade e Diversidade, que abordou a necessidade de se acelerar as políticas de inclusão no mercado segurador, e participou do painel técnico “Diversidade em Ação” do 8º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro. O encontro abrangeu os desafios enfrentados por mulheres e pessoas transgênero, gays, negras, jovens e idosas nas companhias seguradoras e resseguradoras. Solange Beatriz Mendes destacou os esforços empreendidos pelo setor e pela CNseg na promoção da equidade de gênero: “Nosso setor tem o dever de ser o reflexo da sociedade. A diversidade está no DNA do mundo segurador”, declarou (CNSEG, 2019).
O tema também inspirou a criação do Calendário CNseg 2020, que trouxe o significado de datas que simbolizam lutas por maior representatividade na sociedade, como por exemplo, o “Dia Internacional da Mulher”, celebrado em 08 de março, o “Dia do Orgulho LGBTI+”, em 28 de junho, o “Dia da Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros”, em 25 de setembro, o “Dia Internacional das Pessoas Idosas”, em 1º de outubro, o “Dia da Consciência Negra”, em 20 de novembro, o “Dia Internacional das Pessoas com Deficiência”, em 03 de dezembro, entre outras.
Outra iniciativa de peso foi organizada pelo presidente da CNseg, Marcio Coriolano, que em março de 2020 reuniu os novos presidentes dos oito Sindicatos Regionais das Seguradoras na inauguração da segunda fase do projeto “Sinergias entre a Confederação e os Sindicatos das Seguradoras”, que tem o objetivo de “alinhar as atividades das entidades para obter todas as sinergias que resultem em coordenação compartilhada da estratégia representativa em nível nacional”, e que tem impulsionado o debate sobre as melhores práticas de Diversidade e Inclusão no mercado de seguros (CNSEG EM AÇÃO, nº 168, 2020, p.11). A primeira fase do projeto abrangeu a harmonização de estatutos, a publicação de diretrizes nacionais, a constituição de Comitê Executivo das mudanças, entre outras iniciativas.
Para celebrar o 25 de setembro em 2020 a CNseg promoveu o webinar “O Papel das Empresas para a Urgente Superação do Racismo na Sociedade Brasileira”, que reuniu Alexandra Loras, executiva, comunicadora, mentora, consultora e ex-consulesa da França em São Paulo; Carlos de Paula, Diretor Executivo da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida – FenaPrevi; Narely de Paula, Head of Energy da Austral Seguradora; Tereza Moreno, VP Financeira & CFO da Prudential do Brasil Seguros de Vida e Thiago Amparo, professor de Direito e Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas-SP, e teve Solange Beatriz Mendes como mediadora.
Naquele contexto Solange Beatriz Mendes afirmou em entrevista divulgada pelo portal da CNseg que o setor de seguros já conta com entidades autônomas dedicadas ao tema da diversidade e inclusão, como o Instituto pela Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros – IDIS e a Sou Segura (Associação de Mulheres do Mercado de Seguros – AMMS), que para celebrar o 25 de setembro realizou um “bate-papo” entre a presidente da associação, Margo Black, e a presidente do IDIS sobre a importância da diversidade dentro das empresas do setor.
Em artigo divulgado pelo portal da AMMS em agosto de 2021, a executiva Jaíne Lima apontou algumas estratégias que podem contribuir para a ampliação do debate sobre diversidade e inclusão dentro das organizações, como o Smart Recruting (Recrutamento Inteligente) e o treinamento das lideranças.
A executiva definiu Smart Recruting como “uma forma de trabalho dentro do RH que determina, de maneira prévia, filtros e etapas do processo. Contudo, estes requisitos não estão baseados na cor ou no gênero, mas sim, nas capacidades que a empresa busca para o cargo que deseja ocupar”. Já o treinamento das lideranças pode impactar positivamente na retenção de talentos na medida em que auxilia os líderes no desenvolvimento de avaliações comportamentais e de resultados, superando as suas próprias expectativas em relação a cor, gênero, ou classe social (LIMA, 2021).
Esta visão é compartilhada por Pedro Pinheiro, ex-Superintendente de Relações de Consumo e Sustentabilidade da CNseg, que em artigo publicado no portal da Confederação destacou a importância de ações proativas voltadas à remoção de obstáculos para a ascensão de minorias em posições de direção e de prestígio. A título de exemplo, Pinheiro lembrou que algumas empresas têm optado por oferecer o curso de inglês para os estagiários ao invés de exigir o idioma como pré-requisito na seleção (PINHEIRO, 2020).
No início de 2021 a CNseg anunciou que vai intensificar os debates sobre diversidade e inclusão com gestores e colaboradores por meio de treinamentos. Outra iniciativa já anunciada é a realização de um Censo inédito para aferir a diversidade de gênero, raça e sexo do seu quadro de funcionários. Esta pesquisa servirá de base para a estruturação de um plano de ação interno voltado às melhores práticas. No mês de abril a Rádio CNseg divulgou entrevista com a atual Superintendente de Relações de Consumo da CNseg, Luciana Dall´Agnol, que afirmou que
A CNseg sempre esteve engajada no tema diversidade, seja em projetos voltados para as suas associadas, seja através de ações internas. A promoção do debate nos fóruns técnicos específicos, a exemplo da criação do Grupo de Trabalho de Diversidade e Inclusão, a realização de conferências de diversidade e inclusão voltadas para o nosso setor, o fomento de campanhas internas junto aos nossos funcionários, são exemplos de ações que já foram desenvolvidas e estão sendo intensificadas agora em 2021 (DALL’AGNOL, 2021).
Por fim, a executiva destaca que “o engajamento de cada funcionário e de cada gestor na criação de um ambiente inclusivo é requisito fundamental” (DALL’AGNOL, 2021). Para o presidente da CNseg, Marcio Coriolano, a promoção das melhores práticas de relacionamento humano no ambiente de trabalho por meio do acolhimento de diferentes opiniões em condições de igualdade e justiça pode contagiar a toda a sociedade (CORIOLANO, 2017, p.3).
Segundo pesquisa realizada pelo Grupo de Diversidade e Inclusão em 2019, a ampliação dos debates sobre o tema contribuiu positivamente para a melhoria dos indicadores da representatividade de diferentes grupos no quadro de funcionários das 21 associadas consultadas. A pesquisa registrou que em 2019 se deu um aumento percentual no número de funcionários negros, LGBTQ+ e com deficiência, em comparação com 2018, saltando de 7,6% para 9%, de 5,5 para 7,5 %, e de 3,1% para 3,3%, respectivamente. O percentual de funcionárias mulheres apresentou uma evolução de 57,2% para 57,5% no mesmo período (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE DO SETOR DE SEGUROS, 2019, p.26).
O Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros publicado pela CNseg em outubro de 2020 revelou que 94,4% das 32 empresas participantes da pesquisa adotam práticas de promoção da diversidade e da não-discriminação, e 44,4% são signatárias de algum pacto de diversidade e inclusão. A nova edição do Relatório será lançada durante a Conseguro, o maior evento do segmento no país que será realizado entre 27 de setembro e 1º de outubro. O documento aponta que as empresas do mercado de seguros permanecem comprometidas com práticas de promoção da diversidade e que 63,2% das seguradoras consultadas criaram um Comitê de Diversidade com ações que são relatadas diretamente para as principais lideranças das empresas. A pesquisa demonstra ainda que 68,4% das companhias de seguros monitoram os indicadores de diversidade do quadro de funcionários (SINDSEG SP, 2021).
No início deste ano a CNseg anunciou que as próximas edições do Relatório de Sustentabilidade trarão dados relacionados à diversidade e à inclusão relativos a oito regiões sindicais do setor de seguros. Em entrevista divulgada pelo Jornal Correio Braziliense em 08 de agosto último, Solange Beatriz Mendes afirma que “essas iniciativas são essenciais para garantir que as seguradoras sejam efetivamente inclusivas, reforçando que a cultura da não-discriminação é um valor fundamental para o setor segurador” (CNSEG, 2021).
O tema foi destaque na Conseguro 2021, realizada de 27 de setembro a 1º de outubro, com o painel “Diversidade & Inclusão: por que é importante falar sobre isso?”, apresentado no dia 1º, que trouxe Luana Génot – fundadora do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), como palestrante; Erika Medici – CEO da AXA Seguros, Thereza Moreno – Diretora Vice-presidente Financeira & CFO da Prudential do Brasil e Simone Vizani – Presidente da Sou Segura, como debatedoras e contou com a participação de Patricia Coimbra – Vice-Presidente de Capital Humano, Administrativo, Sustentabilidade e Marketing da SulAmérica Seguros e Presidente da Comissão de Recursos Humanos da CNseg, como moderadora.
Em sua apresentação Luisa Génot, fundadora do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), explicou que, por excelência todos os ambientes são diversos e que a “Diversidade contempla diferenças físicas, como por exemplo, gênero, raças, etnias, gênero etc. Enquanto a Inclusão, é um passo além, é fazer um movimento para incluir os grupos que estão sub-representados nesses ambientes”, abrindo espaço para o debate.
Para Simone Vizani, presidente da Sou Segura, existe um “descompasso de gênero entre mulheres brancas e negras no mercado segurador. Os números mostram que menos de 1% estão em cargos de alta liderança, o que representa menos de 10% dos colaboradores e colaboradores”. Embora 55,6% das empresas tenham assinado compromissos com a ONU Mulheres para ampliação da presença feminina em posição de liderança, como demonstrado no Relatório de Sustentabilidade da CNseg, dos 57,6% das profissionais do mercado segurador, somente 22,8% são diretoras.
“Ou seja, há um achatamento quando as mulheres chegam aos cargos gerenciais e, quando chegam ao nível de direção ficam sem perspectivas de crescimento. Isso se deve a muitos fatores, mas as empresas precisam, sim, olhar para as suas políticas e criar possibilidades de ascensão na carreira dessas mulheres”. Para ela, isso demonstra que há muito o que fazer “nesse universo da diversidade e inclusão de raça” (VIZANI, 2021).
Thereza Moreno, diretora Vice-presidente Financeira & CFO da Prudential do Brasil, falou sobre a ausência de equidade no mercado segurador e sobre os desafios enfrentados ao longo de mais 30 anos de carreira.
Como mulher, negra e de Exatas, tive pouca representatividade no decorrer da minha jornada de trabalho. Eu sou Atuária por formação. Então, sou Matemática especializada em Seguros. Na Universidade, não tinha muitas mulheres na minha turma, muito menos mulheres negras (…). Minha primeira chefe em um órgão público foi uma mulher negra, e ela mudou a minha vida, fez muita diferença no meu futuro, porque eu me vi representada. Mas, à medida em que avancei na carreira, tive menos representatividade. Atualmente, conheço outras mulheres negras em cargos executivos. Somos poucas, mas não estou sozinha (MORENO, 2021).
A executiva avalia que o que está por trás de corporações engajadas em diversidade é uma sociedade mais justa, uma sociedade menos violenta. Para ela as empresas devem assumir o protagonismo da conversa sobre diversidade. “Eu quero deixar um mundo melhor para os meus filhos, para os meus netos, que também são negros como eu. Acho que essa campanha que a gente tem que abraçar, e acho que a CONSEGURO é um bom exemplo de espaço para a gente discutir sobre isso”, concluiu.
Erika Medici, CEO da AXA Seguros, iniciou sua fala compartilhando que sente muito “orgulho de fazer parte de uma empresa” que definiu a paridade de gênero em cargos de liderança como meta para 2023.
Para a executiva as boas práticas passam pelo RH. Assim, a AXA implementou a licença maternidade de seis meses para mãe e de 30 dias para o pai e objetivando manter a igualdade das ofertas em suas avaliações, definiu que para todas as contratações seria necessário receber currículos de outros gêneros. Outra ação importante é treinamento em diversidade e inclusão para quem se candidata a prestador de serviço na área de sinistros. Segundo Erika,
A gente vê que a receptividade começa a ser muito maior. Hoje a gente tem como output 92% de grau de satisfação desses prestadores. Com essa proposta de trazer a diversidade nesse cunho não só ético, mas também de alavancagem de lucratividade, de resultado, de uma companhia mais sustentável (MEDICI, 2021).
Patrícia Coimbra – moderadora do painel -, Vice-Presidente de Capital Humano, Administrativo, Sustentabilidade e Marketing da SulAmérica Seguros e Presidente da Comissão de Recursos Humanos da CNseg, encerrou o debate destacando que “está comprovado que diversidade traz decisões mais robustas, permite inovação, atrai e retém talentos e traz representatividade de clientes e parceiros”.
Fica a importante reflexão proposta por Luisa Génot:
Se o Brasil é um País de maioria negra e triplicou o número de pessoas negras no Ensino Superior, onde estão as lideranças negras nas seguradoras? E como as seguradoras estão se engajando na pauta antirracista? Se hoje estamos discutindo esse tema na Conseguro é porque podemos melhorar o engajamento das seguradoras” (GÉNOT, 2021).
Publicado em: 22.10.2021
Assista do vídeo de lançamento do Dia da Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros
