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50 anos da Ponte Rio-Niterói

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Há 50 anos, chegava ao fim uma das maiores obras da engenharia brasileira. A Ponte Rio-Niterói era inaugurada e passava a fazer a ligação física entre as cidades de Niterói e do Rio de Janeiro. A obra, de dimensões e complexidade únicas no Brasil, que dependeu de um consórcio de companhias para executá-la e segurá-la, mudaria o dia a dia da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

A estrutura da ponte

Em janeiro de 1969, foram iniciadas as obras da ponte, autorizadas no ano anterior pelo presidente Costa e Silva e executadas por um consórcio formado por várias empresas nacionais. Toda em concreto armado, a maior parte do projeto foi realizado pela engenharia brasileira. O Vão Central, uma obra bastante complexa, foi entregue a uma empresa norte-americana.

Dos seus 13 km de extensão, quase 9 deles estão sobre as águas da Guanabara. O seu ponto mais alto, o Vão Central, chega a 72 metros de altura e é considerado o maior vão em viga reta contínua do mundo, com 300 metros de comprimento. A ponte foi quase toda feita em concreto, contando com mais de 1100 vigas, somente sendo utilizada estrutura metálica no Vão Central. Popularmente conhecida como Ponte Rio-Niterói, é a maior ponte do Hemisfério Sul, por onde passam diariamente mais de 150 mil veículos. (Jornal da Band, 04 de março de 2024).

 

Fonte: Construção da Ponte Rio-Niterói. (Arquivo Nacional)

A obra, inaugurada em 04 de março de 1974, custou aos cofres públicos 120 milhões de dólares em valores da época. A construção fez parte das obras faraônicas empreendidas nos anos 1960-1970, visando criar um clima positivo e de euforia durante o período mais duro da Ditadura.

Riscos inerentes à construção

Por toda a complexidade da construção, também a sua proteção não era tarefa simples.

Em 1969, com o início das obras, a imprensa divulgou que o seguro da ponte seria feito no Brasil, abrangendo dano material e mão-de-obra. De acordo com a nota, “um seguro dessa espécie nunca é absorvido por um só mercado nacional, tendo que ser repartido por grandes centros mundiais, com a participação de vários países. A própria construção da Ponte – acrescentou – estará a cargo de dois consórcios: um nacional e outro estrangeiro”. (Correio da Manhã, 18 de junho de 1969, p.10).

O então presidente da Fenaseg, Dr. Carlos Washington Vaz de Melo também prestou declarações à imprensa. Segundo ele, por se tratar de uma obra pública, era indispensável a realização da modalidade de sorteio para a escolha da seguradora. Também frisou que todo o mercado segurador brasileiro possuía responsabilidade na cobertura dos riscos relativos à construção da ponte. (Diário de Notícias, 24 de agosto de 1969, p. 55).

Em agosto de 1969, o Jornal do Paraná veiculou anúncio da Companhia Paulista de Seguros (atual Liberty Seguros) sobre o sorteio realizado para a escolha da seguradora que cobriria as construções da ponte:

“A Companhia Paulista de Seguros vem a público agradecer a confiança nela depositada pelo Govêrno Federal, pelo DNER, IRB e pelos Construtores e Empreiteiros, atribuindo-lhe, por sorteio, os seguros dos riscos inerentes à construção da Ponte Rio-Niterói, efetivada através da apólice GBRD-058, no valor segurado de £ 15,000,000.00” (Diário do Paraná, em 15 de agosto de 1969).

 

Fonte: Anúncio da Companhia Paulista de Seguros sobre a Ponte Rio-Niterói, publicado no jornal Diário do Paraná, em 15 de agosto de 1969. (Biblioteca Nacional).

Sinistros durante a construção

Na primeira fase da execução da obra, em março de 1970, durante um teste de carga, 8 trabalhadores foram vitimados. Segundo a nota oficial:

“O ‘Consórcio Construtor Rio-Niterói’ cumpre o dever de esclarecer ao público sôbre a lamentável ocorrência hoje verificada, cêrca das 15h30min, no mar, em local próximo ao eixo da ‘Ponte Rio-Niterói’, onde se processavam os preparativos para os testes de carga de fundações, da qual resultou a perda de vidas dos engenheiros José Machado e Raul Araújo Arendes, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo. Encontram-se desaparecidos cinco operários, além do engenheiro Nikon Vianna, dêste Consórcio” (Correio da Manhã, 25 de março de 1970).

Ao longo de toda a obra, estima-se que cerca de 400 trabalhadores, incluindo operários e engenheiros, tenham morrido, embora o número oficial de mortes registradas seja de 33. (Agência Brasil, 04 de março de 2024).

Riscos inesperados

Com 50 anos de existência, a ponte já passou por situações inesperadas. A mais inusitada aconteceu recentemente, em 2022, quando um navio petroleiro à deriva, que estava desde 2016 ancorado na Baía de Guanabara, colidiu com a ponte. O acidente levou ao fechamento da via, em seus dois sentidos, para avaliação de sua situação. Em apenas uma hora, o congestionamento gerado já ultrapassava 19 quilômetros. A via sentido Rio de Janeiro foi a que mais demorou a ser totalmente liberada, para reparo do guarda-corpo que sofreu avaria.

O acidente levou os veículos de comunicação a refletirem sobre os transtornos que um possível fechamento da ponte por tempo indeterminado causaria no dia a dia da população que vive na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Um outro ponto a ser destacado diz respeito ao seguro que protege a construção atualmente. Por se tratar de uma grande obra de engenharia, a Ponte Rio-Niterói conta com um sistema de proteção contra colisões. No entanto, o choque de um navio de grandes proporções, em outra situação, poderia ter ocasionado um maior comprometimento ou mesmo em queda de um trecho de sua estrutura. A apólice estaria adequada nesses casos?

Em razão desta reflexão, o jornalista Antônio Penteado Mendonça avaliou um possível cenário resolutivo, já que um navio nestas condições certamente não possui seguro. De acordo com ele, seria o governo – operador do bem atingido –, que provavelmente arcaria com essas despesas.

Por tudo isto, Penteado sugere a necessidade de uma revisão das apólices com a inclusão deste risco.

 

Publicado em 20.03.2024

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