A popularização das Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs no final do século XX deu início ao que especialistas chamam de Era da Informação. O ciberespaço encurtou a distância entre os continentes e acelerou os fluxos sociais, culturais e econômicos. As bases da revolução tecnológica foram estabelecidas pela corrida espacial, que teve início com o lançamento do primeiro satélite artificial na órbita da terra em 1957, o Sputnik 1.
Dez anos mais tarde, em 25 de junho de 1967, o mundo testemunhou um grande marco das telecomunicações: a primeira transmissão televisiva via satélite da história. A famosa música “All you need is love”, dos Beatles, foi transmitida simultaneamente para 24 países alcançando cerca de 170 milhões de televisores em todo o mundo.
O Brasil ingressou na era das transmissões via satélite em 28 de fevereiro de 1969, com a inauguração da Estação Terrena de Comunicação Via Satélite da Embratel, no município de Itaboraí, no Rio de Janeiro. A data foi marcada pela transmissão de uma entrevista com o Papa Paulo VI, que abençoou o povo brasileiro em português quase perfeito. Ainda em 1969, Neil Armstrong deu “um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”, ao tocar a superfície da lua diante de 600 milhões de pessoas no mundo inteiro. Às 23h56, no horário de Brasília, telespectadores brasileiros puderam assistir a este marco histórico ao vivo, sem interrupções.
Foi neste contexto de inovação sem precedentes que a Internet foi viabilizada por meio da criação da ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network, em português, Rede da Agência de Pesquisas em Projetos Avançados), um projeto originalmente financiado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Em 29 de outubro de 1969 foi transmitida a primeira mensagem, de apenas cinco letras, entre dois computadores que eram do tamanho de uma pequena casa cada um. “Login” foi a palavra escolhida, e apesar de ser pequena e simples, derrubou a rede após o envio da segunda letra. Este fato soa no mínimo inusitado aos ouvidos de milhares de jovens nativos digitais habituados com a transferência diária de um número expressivo de dados pela internet.
O desenvolvimento do TCP/IP na década de 1970 possibilitou a comunicação entre várias redes, dando forma à Internet como conhecemos hoje. A sua massificação se deu a partir dos anos 1990, quando Tim Berners-Lee lançou as bases da World Wide Web. O primeiro site da história foi ao ar em 06 de agosto de 1991, e o seu conteúdo não poderia ser mais apropriado: o que é a Web e como utilizá-la.
O mercado segurador global rapidamente incorporou as novas tecnologias, que contribuíram para a dinamização das vendas e para o maior estreitamento do relacionamento com os consumidores finais. Hoje o setor vive um novo marco de inovação. No plano internacional destacam-se soluções como o Blockchain, que tem se revelado uma tecnologia estratégica para o registro e rastreamento de informações de maneira transparente e imediata, reduzindo riscos e custos para todos os envolvidos. A Confederação Nacional das Seguradoras – CNseg define blockchain (na tradução livre “cadeia de blocos”) como
bases de registros e dados distribuídos e compartilhados, que têm a função de criar um índice global para todas as transações que ocorrem em um determinado mercado. Funciona como o livro-razão da contabilidade, só que de forma pública, compartilhada e universal, com base no consenso e confiança entre as pessoas, sobre todas as informações, saldos e transações (CNSEG, 2017).
E acrescenta: “Trata-se de uma ferramenta que faz com que as trocas monetárias sejam descentralizadas, transparentes e disponíveis para a conferência pública, diminuindo os riscos de fraudes e sem a necessidade de um banco central para a análise dos dados”. Este conceito surgiu em 2008 e promete revolucionar as transações comerciais no setor de seguros (CNSEG, 2017).
Outra solução inovadora é o Big Data, que consiste em técnicas avançadas de análise de conjuntos de dados muito grandes cuja capacidade de captura, processamento e gerenciamento está muito além da capacidade dos bancos de dados tradicionais. A análise de big data em tempo real e em grande escala contribui fortemente para a geração de respostas rápidas ao contexto.
Combinando dados como boletins policiais, informações meteorológicas e determinadas conjunturas como, por exemplo, dia de pagamento, a polícia norte-americana tem conseguido empregar o big data no combate ao crime. No setor de seguros a combinação de variáveis como o envelhecimento da população, o aumento de doenças crônicas e degenerativas gerado por alteração no estilo de vida, e o surgimento de novas tecnologias podem impactar diretamente nos custos das operadoras de saúde suplementar, e é neste contexto que o big data emerge com novas oportunidades para o gerenciamento de custos.
Já a Telemetria vem viabilizar a personalização do seguro automóvel na medida em que permite monitorar veículos à distância via sinais de rádio ou satélite. Por meio de sensores e outros dispositivos, esta tecnologia capta dados sobre o consumo de combustível, localização, e performance do veículo, que podem auxiliar as seguradoras na análise do comportamento do condutor e na construção de avaliações de risco mais personalizadas, tornando possível a concessão de descontos a condutores mais responsáveis e que oferecem menor risco.
Estas e outras tecnologias estão presentes no livreto Gestão da Inovação e Inovação Estratégica, publicação lançada pelo Programa de Educação em Seguros, em 2019, que apresenta as novas tendências que devem nortear as atividades de seguros pelos próximos anos. Para Solange Beatriz Mendes, diretora executiva da CNseg, o presente descortina um mundo de oportunidades, e o futuro nunca esteve tão próximo do setor de seguros (MENDES, 2016).
O ex-presidente da CNseg, Marcio Coriolano, acredita que “instrumentos como a digitalização, a inteligência artificial e ferramentas poderosas de análise de dados já fazem parte do encurtamento de processos no Brasil e de maior proximidade com o cliente”. Esses instrumentos também já estão criando novas oportunidades para aprimorar o processo de precificação e distribuição dos nossos produtos e serviços, sempre tendo em conta que há um consumidor cada vez mais exigente e melhor informado” (CORIOLANO, 2020).
Para Marcio Coriolano, a inovação em curso no setor de seguros ainda não é resultado direto das medidas modernizadoras do órgão regulador, mas da capacidade transformadora das companhias de seguros. A jornada de inovação é longa, contudo, aponta para novos patamares de crescimento do setor (CORIOLANO, 2021).
A CNseg vem desempenhando um papel historicamente relevante no processo de inovação do mercado de seguros. Entre 28 e 30 de novembro de 1990, quando ainda operava como Fenaseg, reuniu as lideranças do setor no 1º Simpósio Internacional de Automação de Seguros – SIAS, no Rio de Janeiro. Cerca de 700 convidados compareceram à cerimônia de abertura. Em entrevista à edição de janeiro de 1991 da Revista de Seguros o então presidente da Fenaseg, Rubens dos Santos Dias, afirmou que “o 1º SIAS abriu caminhos para que o mercado segurador deixe de ser uma imensa papelaria levando a automação a todo setor” (REVISTA DE SEGUROS, 1991, p.5).
O 1º SIAS foi concebido pela Comissão de Informática da Fenaseg e descortinou novas possibilidades para as seguradoras em um cenário marcado pela escassez de softwares voltados às necessidades do mercado e pelo alto custo dos equipamentos de Informática. Em 2002, o grupo passou a se chamar Comissão de Tecnologia da Informação, e desde 2007 é conhecido como Comissão de Processos e Tecnologia da Informação – CPTI.
A Comissão realiza a avaliação das necessidades de desenvolvimento de processos e sistemas das associadas, de forma a atender às demandas legais e regulatórias de maneira eficaz. A CPTI também é responsável pela organização do Insurance Service Meeting, evento que é celebrado anualmente e que já se tornou referência para executivos e especialistas das áreas de TI, negócios, produtos e serviços.
Em 2001 o site institucional da Fenaseg foi reformulado, ganhando novas seções para a veiculação de um número ainda maior de conteúdos. A Federação também inovou na forma de se comunicar com seus colaboradores por meio da criação da Intranet, que conferiu celeridade e fluidez na comunicação com o público interno. A comunicação com o mercado segurador também foi impulsionada por meio do E-mail Seguros, um informativo endereçado a executivos do setor contendo a agenda das Comissões Temáticas, o calendário de eventos, entre outras informações de interesse do mercado.
A Revista de Seguros realizou um exímio trabalho de cobertura do processo de informatização do mercado de seguros nos anos 90. A edição de novembro de 1990 revelou que a SulAmérica e a Itaú Seguros realizaram investimentos anuais da ordem de 17 e 8 milhões de dólares, respectivamente, em novas tecnologias (REVISTA DE SEGUROS, 1990, p.30).
Tanto a revolução tecnológica que marcou a década de 1990 como o processo de inovação que está em curso têm como alvo o ganho de eficiência no gerenciamento de informações para a obtenção de êxito nas tomadas de decisões.
Há mais de dez anos, a CNseg fomenta práticas inovadoras no mercado de seguros por meio do Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros. Entre as iniciativas inovadoras premiadas nas últimas edições destacam-se importantes melhorias no serviço de assistência à saúde, como o case Idoso Bem Cuidado (edição 2019, autora Katia Christina Weber, seguradora SulAmérica Companhia de Seguro Saúde), que consiste no fornecimento do suporte necessário para que os beneficiários tenham uma vida mais saudável e longeva.
O case Solicitação de Medicamentos (edição 2019, autor Paolo Marini, seguradora SulAmérica Companhia de Seguro Saúde), trouxe uma funcionalidade que permite que o segurado solicite e acompanhe, via aplicativo, a entrega de medicamentos imunobiológicos e quimioterápicos orais em domicílio de forma rápida e segura.
Já o Médico na Tela (edição 2019, autora Patrícia Alves Ornellas, seguradora SulAmérica Companhia de Seguro Saúde), viabiliza a consulta por vídeo com pediatras e clínicos gerais sem que o beneficiário precise sair de casa.
Também foram reconhecidas inovações que beneficiam consumidores do Seguro Auto, como a Assistência Auto 24h Bradesco Seguros e Waze (edição 2018, autor André Hirszberg, seguradora Bradesco Seguros), que garante o atendimento de emergências em vias urbanas e estradas. Ao clicar na opção SOS do aplicativo, motoristas usuários do Waze, sejam eles segurados ou não, podem acionar os serviços de Assistência Dia & Noite da Bradesco Seguros Auto para a resolução de problemas como panes, colisões e pneu furado.
O case BIA – Serviço de Voz no Google Assistente (edição 2018, autor Marcelo Araujo, seguradora Bradesco Seguros), traz uma assistente digital lançada no aplicativo Google Assistente que aciona serviços em casos de colisão de veículos, panes, troca de pneu ou solicitação de chaveiro. O app gerencia o atendimento do usuário, garantindo agilidade e fluidez na solicitação.
Já o “Auto, Vc: Acelerar demais? Só na inovação” (edição 2019, autora Patrícia Alves Ornellas, seguradora SulAmérica Companhia Nacional de Seguros), consiste em um sistema de telemetria que permite compreender alguns hábitos de motoristas ao volante e recompensa aqueles que adotam uma condução mais segura.
O setor também tem sido largamente reconhecido por outras iniciativas voltadas à promoção da inovação no Brasil. Em 2020, a SulAmérica recebeu destaque na categoria “Seguros e Planos de Saúde” da 6ª edição do Prêmio Valor Inovação Brasil. “Para nós este reconhecimento é fruto de um forte investimento em inovação, que teve início há pelos menos 5 anos com o objetivo de melhorar cada vez mais a experiência dos nossos clientes e parceiros. Somos digitais na essência e sabemos que inovar é um processo contínuo”, destacou Marco Antunes, vice-presidente de Operações, Digital e Inovações da SulAmérica (SULAMÉRICA, 2020).
A SulAmérica foi listada ainda no ranking “As 100+ Inovadoras no uso de TI”, organizado pelo grupo IT Mídia em parceria com a consultoria PwC, em 2018, e conquistou o Prêmio Whow! de Inovação na categoria “Seguros e Planos de Saúde” em 2018 e 2019.
Entre 2011 e 2021, o Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga de Inovação em Seguros recebeu 855 projetos e em sua 10ª edição, celebrada em 15 de dezembro de 2021 – que atingiu o recorde de 160 projetos inscritos em uma mesma edição –, concedeu tokens não-fungíveis em blockchain (NFTs) aos vencedores nas três categorias em disputa. Os NFTs “equivalem a certificados que representam no mundo digital objetos de valor percebido elevado, como obras de arte, itens colecionáveis, músicas, GIFs entre outros, e estão cada vez mais populares em concursos e prêmios, incluindo o Oscar”, explica a CNseg (CNSEG, 2021). Para Solange Beatriz Mendes, a iniciativa ratifica o compromisso de inovação que está no DNA do Prêmio Antonio Carlos de Almeida Braga.
Marcio Coriolano abriu a 10ª edição do encontro com uma homenagem que pereniza o legado do grande homem que inspirou o nome da premiação:
divulgar práticas inovadoras que ampliam o mercado de seguros é um dos principais objetivos deste Prêmio, portanto, nada mais justo que o nosso querido e eterno inovador Braguinha empreste o seu nome a esta premiação. Um dos empresários mais importantes do país, Antonio Carlos de Almeida Braga investiu em novas modalidades de seguros, aperfeiçoou o atendimento ao consumidor e incentivou a capacitação de profissionais. O seu legado, que também se estende aos esportes, servirá sempre como inspiração para todos nós (CORIOLANO, 2021).
Solange Beatriz Mendes destacou que a homenagem ao Braguinha celebra a união entre a Diversidade e a Inovação. Para a executiva, inovar “é traçar relações insuspeitas, pensar de modo divergente, pensar no outro, pensar em como respeitar e agregar valor, isso é Diversidade e Inclusão. E o setor de seguros está caminhando a passos largos nessa direção” concluiu (MENDES, 2021).
Os cases que conquistaram o 1º lugar em 2021, primeira edição inteiramente online, foram: na categoria Produtos e Serviços, o “P.A.E.S – Programa Aluno e Escola Seguros” (autor Luciano Basilio, empresa Styllo Corretora), uma plataforma que conecta pais a escolas que assumem o compromisso de manter o ambiente seguro e que tem como principal objetivo evitar que ocorram tragédias com crianças em ambiente escolar.
Na categoria Comunicação, o “Conexão Criativa: Programa de Ideias Corporativo” (autor Péricles Borba, empresa SulAmérica Seguro Saúde), um programa voltado à disseminação de conhecimentos sobre inovação e empreendedorismo. E na categoria Processos e Tecnologia, o “Fast Track SulAmérica: Encaminhamento de Pronto-Socorro na Covid-19” (autora Liana Sampaio Inhauser, empresa SulAmérica Seguro Saúde), uma solução que conecta os serviços de atendimento digital de saúde da SulAmérica Seguro Saúde com hospitais parceiros, agilizando o atendimento de clientes com suspeita ou diagnóstico de Covid-19. Estas e outras iniciativas foram reunidas no site https://premioseguro.com.br/, que apresenta um grande histórico do Prêmio.
Solange Beatriz Mendes anunciou que a partir de agora o processo de avaliação dos cases passa a contar com um novo e importante critério: o alinhamento dos projetos com os Princípios de Sustentabilidade em Seguros:
O Prêmio de Inovação em Seguros na sua essência traz as questões Sociais, Ambientais, de Governança, e de Diversidade. E foi para estimular ainda mais este olhar ASG, que em 2021 incluímos como um novo critério de avaliação dos projetos, a adoção de práticas que estejam em sintonia com os Princípios de Sustentabilidade em Seguros (MENDES, 2021).
Para Marcio Coriolano, o seguro sem inovação se distancia do seu papel de proteção para empresas, famílias e pessoas, e perde a sintonia com a sua missão. O executivo destaca ainda que esta premiação demonstra que o setor de seguros é inovador, e faz propostas consistentes para que seja ampliado o acesso da população brasileira à proteção do seguro (CORIOLANO, 2021).
Antonio Carlos de Almeida Braga e o presidente da CNseg, Jorge Hilário Gouvêa Vieira, no lançamento da 1a. edição do Prêmio. Copacabana Palace, dezembro de 2011. Acervo Cedom.
Hastag da edição 2018. Acervo Cedom.
Publicado em maio de 2022.