O presidente da Confederação Nacional das Seguradoras – CNseg, Marcio Coriolano, afirmou em entrevista à edição nº 914 da Revista de Seguros que a pandemia “mais do que ter mudado o modo de vida da sociedade e a economia, serviu para dar novo e dramático senso de urgência para a adoção de práticas preservacionistas”, descortinando um novo contexto para o fortalecimento da Agenda ASG – Ambiental, Social e de Governança na atual conjuntura (REVISTA DE SEGUROS, ano 93, nº 914, 2020, p.4).
Para Solange Beatriz Mendes, diretora de Relações de Consumo e Comunicação da CNseg, “a pandemia veio para mostrar que eventos inesperados de qualquer natureza podem acontecer a todo momento e que precisamos estar preparados para encará-los com responsabilidade socioambiental, incluindo as questões Ambientais, Sociais e de Governança nas operações, visando ao desenvolvimento sustentável” (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE DO SETOR DE SEGUROS, 2020, p.9). A executiva também destaca que, embora a pandemia tenha despertado a sociedade para a importância do tema, os princípios ASG já estão presentes no setor de seguros há muitos anos (CNSEG, 2021).
O primeiro passo para a inserção do conceito de Sustentabilidade nas operações de seguros foi a assinatura do Protocolo Verde, firmado em 25 de setembro de 2009 pela CNseg, o Ministério do Meio Ambiente, e o Sindicato das Seguradoras do RJ/ES. Em 05 de setembro de 2012, foi criada uma Comissão Especial formada por representantes do Ministério do Meio Ambiente, CNseg, Sindseg ES/RJ, Susep, Ministério da Fazenda e Secretaria Estadual do Meio Ambiente, por meio da assinatura de um Termo Aditivo ao Protocolo Verde. A Comissão foi incumbida de acompanhar periodicamente as ações do setor e de apresentar sugestões para a elaboração de programas e planos voltados ao desenvolvimento sustentável.
A adesão aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI), em 19 de junho de 2012, foi outro importante ponto de inflexão nesta trajetória. A CNseg, ao lado da Bradesco Seguros, SulAmérica, Mongeral, e Itaú Unibanco Seguros, além de outras 29 companhias estrangeiras, se tornou signatária do documento e se comprometeu com a sua disseminação no mercado local, durante o 48º Seminário Anual da Internacional Insurance Society (IIS), realizado paralelamente à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
“Pretendemos disseminar boas práticas e contribuir de maneira significativa para o alinhamento das empresas signatárias aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros (…) Não estamos apenas fazendo história, mas dando um grande passo na direção de um futuro sustentável para as próximas gerações”, afirmou Solange Beatriz Mendes em entrevista à Revista de Seguros. Para a executiva, a adesão serve de estímulo para que todas as seguradoras caminhem juntas na direção de tornar o setor de seguros um exemplo mundial de boas práticas em Sustentabilidade (REVISTA DE SEGUROS, Abril/Maio/Junho de 2012, p.8 e 12).
Em 17 de julho de 2012, um mês após a adesão aos Princípios para a Sustentabilidade em Seguros, a CNseg instituiu a Comissão de Sustentabilidade e Inovação (CSI), incumbida de coordenar a atuação da Confederação no que tange a temas ligados às práticas ASG e a Sustentabilidade. Por meio de estratégias voltadas a diferentes públicos a Comissão tem impulsionado “o engajamento do setor segurador em prol do desenvolvimento sustentável, estimulando a troca de experiências, fomentando a adoção pelas empresas das melhores práticas em questões Ambientais, Sociais e de Governança, e promovendo a adesão aos PSI”, afirma a CNseg (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE DO SETOR DE SEGUROS, 2015, p. 19). A partir de 1º de fevereiro de 2021 o seu nome foi alterado para Comissão de Integração ASG, visando comunicar de forma mais efetiva os temas sob a sua gestão.
Para a presidente da Comissão de Integração ASG da CNseg (CIASG), Fátima Lima, os resultados da promoção das questões ASG no setor de seguros já podem ser observados por meio dos órgãos reguladores, que têm “progressivamente incluído questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável em suas agendas” (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE DO SETOR DE SEGUROS, 2020, p.9). O Relatório de Sustentabilidade do Setor de Seguros, que é publicado desde 2015 pela CNSeg de acordo com as diretrizes internacionais da Global Reporting Iniciative (GRI), também é outra evidência do compromisso do setor com a integração de riscos ASG na estratégia de negócios e na cultura organizacional das companhias de seguros.
A Sustentabilidade também foi tema da 2ª edição do Prêmio Antônio Carlos de Almeida Braga, celebrada no Salão de Cristal do Copacabana Palace, em 11 de dezembro de 2012. O conceito de Sustentabilidade esteve presente até mesmo nos detalhes da organização do evento. O palco e os painéis decorativos foram feitos de madeira com certificação de origem emitida pelo Ministério do Meio Ambiente e reutilizada pelo fornecedor em várias outras montagens, assim como o mobiliário. Após a cerimônia, os itens que não puderam ser reutilizados em outros eventos foram reciclados pela cooperativa “Copa Roca” e pela ONG “Tem Quem Queira”.
Com o objetivo de desenvolver ferramentas que mapeiem a ocorrência de desastres naturais no Brasil, a CNseg e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), através do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, firmaram Acordo de Cooperação Técnica, em 2013. A Confederação também declarou o seu apoio à Conferência do Clima da ONU (COP-21), que reuniu representantes de 195 países, em dezembro de 2015, em prol do Manifesto de Paris pela Ação (Paris Pledge for Action), o primeiro acordo global voltado à redução da emissão de gases do efeito estufa e à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. A CNseg, a SulAmérica e a MAPFRE Brasil, por meio do Grupo BB e MAPFRE, integram a lista de signatários do Manifesto que tem o objetivo de reduzir o aquecimento global para menos que 2º C.
A Declaração do Rio sobre transparência dos Riscos Climáticos foi outro importante compromisso setorial firmado pela CNseg, Susep e pelo líder do programa dos PSI do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Butch Bacani, durante o evento “Construindo a agenda de sustentabilidade na América Latina”, celebrado em 15 de maio de 2018, na sede da CNseg. O documento ratifica o apoio do mercado segurador nacional ao Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas “e abre o diálogo sobre formas práticas e efetivas de atender às recomendações da Força-Tarefa do Financial Stability Board (FSB) sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD), que constituem importante referência para o setor financeiro e de seguros em relação aos riscos climáticos”, afirma a Confederação (CNSEG, 2018).
A CNseg contextualizou a busca das empresas por investimentos que gerem, além de retorno financeiro, impacto social e ou ambiental mensurável no WebTec “Investimento de Impacto”, realizado inteiramente online em 22 de julho de 2020. Moderado por Solange Beatriz Mendes, o evento contou com a participação de Fátima Lima, diretora de Sustentabilidade da Mapfre e presidente da Comissão de Integração ASG (CIASG), Luzia Hirata, analista ESG no Santander Asset e membro do Grupo Consultivo de Sustentabilidade da ANBIMA, Marcelo Mello, vice-presidente de Investimentos, Vida e Previdência da SulAmérica, e Amâncio Paladino Messina, Head de Previdência da XP Seguros.
O evento foi realizado no mesmo ano em que a União Europeia lançou um ambicioso projeto voltado à redução, em 55%, das emissões de gases do efeito estufa até 2030. A Insurance Europe (IE), que reúne associações de seguradores de 37 países, declarou o seu apoio à iniciativa e destacou a importante missão que a indústria de seguros desempenha na mitigação dos graves cenários de alterações climáticas e no auxílio à sociedade e às empresas na travessia de impactos que não podem ser evitados.
Somente no 1º semestre de 2021 eventos climáticos catastróficos potencializados pelas mudanças climáticas já causaram perdas ao setor segurador global na ordem de 40 bilhões de dólares, afirmou a Superintendente de Relações de Consumo e Sustentabilidade da CNseg, Luciana Dall’Agnoll, durante a 59ª edição do “Café com Sustentabilidade”, promovido pela Febraban em 27 de outubro deste ano.
Em entrevista divulgada pelo jornal “Estadão”, em 04 de novembro de 2021, Solange Beatriz Mendes lembrou que recentemente uma renomada companhia europeia recusou a subscrição de risco de uma grande mineradora australiana por entender que esta não atendia a importantes critérios de sustentabilidade. “Daqui a alguns anos, a tendência é que as seguradoras passem a avaliar essas métricas cuidadosamente – não apenas no que tange à questão de meio ambiente – antes de emitirem uma apólice, tornando-se balizadoras que vão validar se uma empresa realmente é ASG, ou se apenas adota o discurso, o chamado greenwashing” (ESTADÃO, 2021).
Confirmando a tendência mundial, em abril deste ano o Banco Central abriu consulta pública sobre novas regras para o gerenciamento de riscos e responsabilidade social, ambiental e climática, aplicáveis ao Sistema Financeiro Nacional. Para o presidente da CNseg, Marcio Coriolano, este é “um grande passo para avançar na direção de novos modelos que incorporem a Agenda ASG nas organizações” (CORIOLANO, 2021).
Na vanguarda de profícuas discussões sobre o tema, a CNseg deu ampla presença dos temas ASG, nos diversos painéis da Conseguro 20221, debateu os impactos dos riscos ASG na atividade seguradora no painel “ASG – A agenda do futuro já começou”, que reuniu Cindy Shimoide, Head of Multi-Asset Portfolio & Investment Consulting for Latin America da BlackRock, Carlos Pereira, diretor executivo da Pacto Global da ONU, Caio Madgri, diretor-presidente do Instituto ETHOS, e Rogério Studart, Senior Fellow do Centro Brasileiro de Relações Internacionais – CEBRI. Na ocasião o presidente da CNseg, moderador do encontro, destacou que “o setor depende crucialmente de questões Ambientais, Sociais e de Governança, visto que a matéria prima do seguro é o risco” (CORIOLANO, 2021). Para Coriolano,
Hoje está amplamente provado que empresas com boas métricas de ASG são mais resilientes e geram mais valor a longo prazo. Isso acontece porque elas gerenciam melhor os riscos e oportunidades socioambientais e possuem governança robusta, o que lhes permite atravessar com mais tranquilidade períodos turbulentos como os atuais (DESTAQUES DO RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE DO SETOR DE SEGUROS, 2020, p.3).
Já no painel “Resolução CNSP 416/2021: Fortalecimento da Estrutura de Governança” se voltou à pauta de Governança na agenda ASG e debateu o normativo publicado pelo Conselho Nacional de Seguros Privados, em julho deste ano, que dispõe sobre os sistemas de controles internos, as estruturas de gestão de riscos e atividade de auditoria interna. O debate foi moderado por Eugênio Felipe, presidente da Comissão de Governança e Compliance da CNseg e superintendente de Auditoria Interna da MAG Seguros, e contou com a presença de Myrian Neves, coordenadora geral da Coordenação Geral de Supervisão Consolidada da Susep, Glaucia Carvalho, presidente da Comissão de Solvência da FenaSaúde e superintendente da Gestão de Riscos da SulAmérica, e Daniella Bertola, membro da Comissão de Gestão de Risco da CNseg e superintendente da Gestão de Riscos e Compliance da Caixa Vida.
E, no painel “Integrações das questões ASG nas Operações do Setor de Seguros” reuniu Vinicius Brandi, diretor da Susep, Fátima Lima, presidente da Comissão de Integração ASG e diretora de Sustentabilidade da MAPFRE, Samya Paiva, membro da Comissão de Gestão de Risco da CNseg e diretora de risk management da Zurich Brasil Seguros, e Sergio Besserman, economista, ecologista, coordenador estratégico do Climate Reality Project-Brasil e curador de Clima e Sustentabilidade no Museu no Museu do Amanhã, em torno do debate sobre o papel do regulador na construção da agenda de desenvolvimento sustentável no Brasil e sobre como as empresas estão se preparando para lidar com os impactos das questões ASG em seus negócios.
Moderado por Solange Beatriz Mendes, diretora-executiva da CNseg, o painel destacou que a revisão de normativos em consonância com aspectos Ambientais, Sociais, e de Governança é uma tendência internacional de órgãos reguladores do Sistema Financeiro, inclusive da Susep, que incluiu as discussões sobre a criação de uma Política de Responsabilidade Socioambiental para o setor de seguros e de normativos para o aprimoramento da Gestão de Riscos ASG em seu plano de regulação, a ser colocado em consulta pública ainda em 2021. Solange Beatriz Mendes abriu o painel afirmando que
(…) o mercado segurador brasileiro é apontado como uma liderança em Sustentabilidade no mundo. O Brasil é o país com maior número de signatários dos Princípios para a Sustentabilidade em Seguros (PSI, na sigla em inglês), constituído pela ONU para ser referência mundial no tratamento de riscos e oportunidades relacionados às questões Ambientais, Sociais e de Governança (…) Nós, a CNseg e a Superintendência de Seguros Privados, a Susep, somos instituições apoiadoras desses Princípios da ONU, e viemos ao longo do tempo estabelecendo uma agenda colaborativa, realizando eventos como este, promovendo debates e pesquisas, sempre com o objetivo de disseminar os conceitos fundamentais (…). Eu sou testemunha de que o mercado segurador brasileiro reconhece que a agenda de adaptação às mudanças climáticas e aos riscos ASG é inexorável, e será alvo de políticas públicas tanto no Brasil como no mundo (MENDES, 2021).
Em um contexto marcado pelos reflexos da pandemia no plano social e econômico, o mercado segurador brasileiro emerge como “protagonista na agenda de Sustentabilidade graças à sua contribuição para a manutenção da renda, proteção da vida, saúde e patrimônios ameaçados pela queda no rendimento médio e pela alta taxa de desemprego no país”, conclui Marcio Coriolano, presidente da CNseg (RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE DO SETOR DE SEGUROS, 2020, p.8).
Publicado em: 29.12.2021
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