No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, o Centro de Documentação e Memória do Mercado Segurador destaca o protagonismo da mulher brasileira no combate à pandemia, e resgata histórias inspiradoras de mulheres que, dotadas de uma enorme determinação, superaram os desafios do seu tempo e marcaram a sua geração.
Instituído pela Organização das Nações Unidas – ONU, em 1977, o Dia Internacional da Mulher é celebrado em todo o mundo com o fim de impulsionar debates sobre a igualdade de direitos e de reconhecer as conquistas sociais, políticas e culturais das mulheres. “Mulheres na liderança: Alcançando um futuro com igualdade num mundo de Covid-19″, foi o grande tema que norteou as ações da ONU no dia 08 de março. Na ocasião, o secretário-geral da ONU, António Guterres, ressaltou que mais de 70% dos trabalhadores do setor de saúde são mulheres, que têm estado na linha de frente da luta diária para salvar vidas, mantendo as economias, comunidades e famílias unidas. Para Guterres
os fatos são claros. Quando as mulheres lideram no governo, existem maiores investimentos em proteção social e avanços contra a pobreza. Quando estão no Parlamento, os países adotam políticas de alterações climáticas mais rigorosas. Quando estão na mesa de negociação de paz, os acordos são mais duradouros (GUTERRES, 2021).
Segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde – CONASEMS, que tem como base resultados do IBGE, no Brasil não é diferente. As mulheres respondem por 65% dos postos de trabalho ocupados no setor público e privado de saúde, podendo ultrapassar 90% de participação em carreiras como Fonoaudiologia, Nutrição e Serviço Social.
As mulheres também representam mais da metade do total de profissionais em atividade no setor de seguros, que vem desempenhando a importante função de desonerar o Governo de gastos para o amparo à sociedade durante a pandemia.
Esta grande conquista encontra as suas raízes históricas no pioneirismo de mulheres cujo legado foi registrado, na década de 1950, pela Galeria Feminina da Revista de Seguros. Entre as mulheres que transpuseram os paradigmas limitantes de seu tempo e conquistaram o seu espaço em um setor predominantemente masculino, destaca-se Anna Emma Tiedemann, a Diretora da Companhia de Seguros Liberdade.
Anna Tiedemann ingressou no mercado de seguros em 07 de janeiro de 1918 como auxiliar do correspondente Francisco Béjar, na Sul América Terrestres, Marítimos e Acidentes, onde permaneceu até 1920, quando foi trabalhar na Internacional. Decorridos quatro anos, a Sra. Tiedemann transferiu-se para a seguradora Home, e após quase 20 anos de relevantes serviços prestados, foi convidada a assumir o cargo de diretora na Companhia de Seguros Liberdade, no início dos anos 40.
Um mês após a divulgação da biografia de Anna Tiedemann, em fevereiro de 1956, a Revista de Seguros apresentou a trajetória de Stella Dalva Figueira de Oliveira. Sonhando com a carreira diplomática desde muito jovem, Stella se empenhou com grande afinco nos estudos para a aprovação no curso do Instituto Rio Branco, entretanto, foi impedida de dar continuidade a esse projeto em decorrência da proibição da entrada de mulheres na carreira diplomática, entre 1938 e 1954. Muito resiliente, Stella Oliveira aprendeu taquigrafia e datilografia e foi em busca de novas oportunidades na Associação das Companhias de Seguros, atual Sindicato das Seguradoras RJ/ES. Tendo exercido a função de secretária na Comissão Central de Seguros, na Comissão de Transportes, na Comissão de Acidentes do Trabalho e na Comissão Regional de Incêndio do Distrito Federal, alcançou a posição de Chefe de Secretaria no sindicato, além de secretariar a Federação Nacional das Empresas de Seguros – Fenaseg e o Centro de Estudos de Seguros e de Capitalização.
A história da professora da rede pública de ensino que ousou se inscrever no primeiro concurso do Instituto de Resseguros do Brasil – IRB foi retratada na edição de setembro de 1956. Aprovada em boa colocação, Almerinda Martins foi admitida no Serviço de Mecanização do IRB em 1940. No final de 1941 transferiu-se para a Divisão de Transportes, onde passou pelas funções de auxiliar de gabinete, secretária, assistente, até chegar ao cargo de Chefe do Serviço de Controle e Sinistros. Almerinda Martins representou o IRB na Comissão Permanente de Transportes e Cascos e foi autora de diversos artigos técnicos para a Revista do IRB, sendo reconhecida pela portaria 444-a, de 13 de outubro de 1942, publicada pelo presidente do Instituto, como “funcionário-fundador”.
Estas e inúmeras outras histórias inspiradoras se desenrolaram em um contexto em que as relações sociais eram regidas por valores altamente tradicionais, especialmente com relação à família e a poderes maritais. Apesar de já poderem votar e trabalhar com regras especiais, as mulheres ainda tinham certos direitos civis cerceados pelo Código Civil de 1916, que exigia o consentimento do marido para a manifestação de vontade da mulher. “A honra da mulher ou sua ‘desonra’ tinham consequências jurídicas e possibilitavam atitudes de ‘devolução’ e de punição social” afirma a Procuradora do Ministério Público do Trabalho, Renata Coelho (COELHO, 2017).
O direito de trabalhar, sem a necessidade de prévia autorização do marido, assim como o direito de obter a guarda dos filhos, em caso de separação, foram conquistados somente em 1962, através do Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4121/62), que alterou mais de dez artigos do Código Civil.
Foi nesse contexto marcado pelos debates em torno da igualdade de direitos, que ascenderam no plano econômico duas grandes damas do seguro: Rosa Garfinkel e Beatriz Rosa Sanchez de Larragoiti Lucas.
Química formada pela Universidade de São Paulo, na década de 1940, Rosa Garfinkel foi fundamental para a história e a construção do conglomerado Porto Seguro. Ela se tornou um modelo pela sua sabedoria, bom senso e persistência, tendo assumido a presidência da companhia quando do falecimento do seu marido Abrahão Garfinkel, em 1978, ficando nesta posição até 2006, período de grandes desafios e de grande crescimento da empresa. Ao falecer com 102 anos, em 2018, era a Presidente de Honra da Porto Seguro. Dona Rosa, como era carinhosamente chamada por todos, foi uma líder presente no dia a dia da empresa durante 28 anos. Mãe de Stela e Jayme Garfinkel, que a sucedeu na presidência do Conselho, tem hoje neste mesmo Conselho seus netos, Ana Luiza e Bruno Garfinkel, este na posição de presidente.
Beatriz Larragoiti, bisneta de Joaquim Sanchez de Larragoiti, fundador da SulAmérica, nasceu em 06 de dezembro de 1931. Ao longo da sua trajetória profissional trabalhou como intérprete em reuniões patrocinadas pela Unesco, na França, onde vivia com o seu marido, Jean Claude Lucas e, em 1982, ingressou no Conselho de Administração da SulAmérica, guiando a companhia com enorme brilhantismo através de um dos períodos mais desafiadores da história da seguradora.
Com o encerramento das vendas dos produtos da SulAmérica pela rede bancária do Banco Bradesco, Beatriz Larragoiti revelou-se uma estrategista de primeira linha negociando uma parceria com a família Moreira Salles, do grupo Unibanco, e reconduziu a SulAmérica à uma posição de liderança no mercado.
Em 1990, Beatriz Larragoiti foi a primeira mulher da América Latina a receber do tradicional Clube de Seguradores, presidido pelo professor Theophilo de Azevedo Santos, o título de “Segurador do Ano”, tendo recebido também da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP o Prêmio Seguro & Riscos, em 1999. No aniversário de 50 anos da Fenaseg, em 2001, Beatriz Larragoiti foi homenageada na festa que reuniu mais de 2 mil pessoas, entre elas, o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.
Mãe de Patrick Antonio Claude de Larragoiti Lucas, Christiane Claude de Larragoiti Lucas e Chantal de Larragoiti Lucas, Beatriz Larragoiti faleceu em outubro de 2004. No ano seguinte foi homenageada pela ANSP, in memoriam, por suas contribuições para o desenvolvimento da atividade seguradora no país. Em 2009, a Prefeitura do Rio de Janeiro nomeou a rua em que foi instalada a nova sede da SulAmérica, no bairro Cidade Nova, de Beatriz Larragoiti Lucas, em homenagem a este grande ícone do seguro.
Sessenta e cinco anos após a publicação da série de histórias inspiradoras que abrilhantaram a Revista de Seguros na década de 50, o mercado segurador comemora conquistas no campo da equidade de gênero. Comprometida com as melhores práticas de diversidade e inclusão de talentos na carreira de seguros, a Confederação Nacional das Seguradoras – CNseg celebra anualmente, desde 2019, o Dia da Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros, em todo 25 de setembro. O lançamento foi conduzido pela diretora executiva da CNseg, Solange Beatriz Palheiro Mendes, e marcou o Festival Dive In para Diversidade e Inclusão em Seguros, realizado em 24 de setembro de 2019, em São Paulo.
Em 08 de março último, Solange Beatriz declarou-se orgulhosa de trabalhar em um setor no qual mais da metade dos colaboradores são mulheres e incentivou o avanço dos debates em prol da ampliação do número de mulheres nos quadros de gerência e direção. “Sejam confiantes, atentas, determinadas, estejam preparadas para as oportunidades, porque elas acontecem, sejam unidas e corajosas. Os desafios são enormes (…) mas avanços vêm sendo conquistados, e o caminho é muito longo. Consciência e confiança são determinantes nessa trajetória”, encorajou.
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Veja também o lançamento do Dia da Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros