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O incêndio do Museu Nacional

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O dia 02 de setembro de 2018 entrou para a história como um dia de tristeza e comoção para a nação brasileira. Um incêndio de grandes proporções atingiu o Museu Nacional, ícone da história do País.

Criado por D. João VI, em 1818, e inicialmente sediado no Campo de Sant’Ana, o Museu Nacional foi a primeira instituição museológica e de pesquisa do Brasil. Em 1892, foi transferido para o Palácio de São Cristóvão, antiga residência da Família Real (1808-1889) e sede da Primeira Assembleia Constituinte da República (1889-1891). Em 1946, passou a ser administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na época conhecida como Universidade do Brasil. Reconhecido internacionalmente como núcleo de excelência em pesquisa científica, o Museu desenvolveu inúmeros projetos nas áreas de Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia, Paleontologia, Vertebrados e Invertebrados”.

O acervo, com cerca de 20 milhões de itens, compreendia temas importantes, como: a História do Planeta Terra, a Evolução do Homem, o Egito Antigo, a Antiguidade Clássica, a Arqueologia Brasileira e Pré-Colombiana, e os Povos Indígenas. Das 40 mil peças representativas de diversos grupos indígenas, apenas as 262 que estão em exposição no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília, se salvaram do incêndio. Também escapou uma coleção rara de 300 insetos que estava emprestada à Universidade do Estado do Pará (Uepa). As demais coleções foram destruídas pelo fogo.

O sinistro foi amplamente noticiado pela imprensa internacional e ganhou manchete no New York Times, BBC News, Forbes, The Guardian, Le Monde, CNN, El País, entre outros. Apesar de toda a repercussão, o episódio não possui ineditismo. Em 1978, há 40 anos, um incêndio destruiu 90% do acervo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Cerca de mil obras foram perdidas, entre elas, as de Picasso, Miró, Matisse, Dalí e Portinari. Tamanha foi a proporção do estrago, que somente na década de 1990 as instituições internacionais voltaram a confiar no País para abrigar exposições de grande porte.

De lá pra cá, novos incêndios ameaçaram a sobrevivência de importantes registros da cultura, história, e memória dos brasileiros como, por exemplo, os incêndios que atingiram o Auditório Simón Bolívar do Memorial da América Latina, em 2013, e o Museu da Língua Portuguesa, em 2015.

Felizmente, assim como o Memorial da América Latina, cujo auditório foi reinaugurado em 2017, o Museu da Língua Portuguesa contava com apólice de seguro e cumpria regularmente as rotinas de segurança. A indenização, no valor de R$ 29, 9 milhões de reais, foi paga em 2016. As obras de restauração seguem a todo vapor, e o museu tem data de reinauguração prevista para o segundo semestre de 2019.

Porém, segundo matéria publicada no Valor Econômico, em 03 de setembro 2018, a contratação de seguro para acervos permanentes ainda não é uma realidade na maior parte dos museus do País. É praticamente nula.
Ainda hoje o seguro é comumente associado à reparação do dano e, apesar da sua inegável contribuição para a recuperação do objeto sinistrado, a ação preventiva é a sua maior contribuição, pois precede à contratação do seguro a execução de um Programa de Gerenciamento de Riscos, capaz de identificar, monitorar, e desenvolver soluções para riscos potenciais, com o fim de evitar o sinistro.

O Museu Nacional não tinha  seguro e, consequentemente, também não tinha um projeto de mitigação de riscos. Segundo a matéria publicada na Folha de São Paulo, em 05 de setembro de 2018, o prédio bicentenário não possuía elementos essenciais à segurança, como a presença de extintores, caixas de incêndio, iluminação, saídas de emergência e portas corta-fogo. O museu não tinha nem mesmo o certificado dos bombeiros para funcionar.

No dia 04 de setembro de 2018, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES anunciou que vai doar 25 milhões para a criação de projetos de segurança, prevenção de incêndio, e modernização de museus, arquivos, e outras instituições que lidam com acervos. Este pode vir a ser um importante marco de inflexão em direção à consolidação da cultura do seguro, ainda muito incipiente, no Brasil. Podemos estar diante do lançamento das primeiras bases sobre as quais se desenvolverá o seguro para museus. Somente o tempo dirá.

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