Há mais de dois séculos a indústria de seguros protege e contribui para o sucesso de empresários, industriais e investidores no Brasil. Dois episódios emblemáticos ocorridos na década de 1970 que refletem a solidez desta parceria são os incêndios da fábrica da Volkswagen, em 1970, e do edifício Andraus, em 1972.
“Um dos maiores incêndios já registrados na história de São Paulo”, noticiou o Correio da Manhã, teve início na ala 13 da Volkswagen do Brasil S.A., em São Bernardo do Campo, em 18 de dezembro de 1970, há 50 anos (INCÊNDIO…, 1970).
Originado no depósito de pneus, o incêndio atingiu as seções em que se davam os trabalhos de tapeçaria, assoalho, peças, elétrica e pintura. “Jamais, em toda a América do Sul um desastre causou tanto prejuízo”, afirmou a Revista Manchete, na edição de 02 de janeiro de 1971 (O INCÊNDIO…,1971).
A luta contra o fogo se estendeu por todo o dia e reuniu quase mil homens do Corpo de Bombeiros. Pela rádio foram convocados todos aqueles que estavam de folga e de férias. Bombeiros da capital, do ABC, de Santos e Cubatão também se uniram aos esforços para conter as chamas.
A Revista de Seguros, na edição de dezembro de 1970, classificou o incêndio como “o maior da história do seguro brasileiro”, dado o grande volume de perdas. Se não fosse a rápida resposta do mercado segurador, o sinistro poderia ter trazido graves consequências para o País, ao atingir a produção de um setor que ocupa posição estratégica na economia nacional, enfatizou o periódico.
Assim, o IRB desde o primeiro momento, em face das repercussões que poderia suscitar aquele sinistro, procurou mobilizar todos os recursos a seu alcance para que a empresa afetada pudesse, no mais breve espaço de tempo possível, normalizar suas atividades. Em poucos dias, o IRB adiantou à segurada a quantia de Cr$ 5.000.000,00 […] e adiantamentos sucessivos serão feitos na marcha dos trabalhos de liquidação do sinistro […] a fim de evitar-se qualquer perturbação à marcha das obras de reconstrução […] (IRB 70…,1970).
Com a autorização do IRB, o pagamento foi realizado pela Swiss Insurance Co., responsável por parte da apólice que abrangia sinistros da ordem de 20 milhões de dólares, o equivalente a 100 milhões de cruzeiros. Após férias coletivas, os 23 mil funcionários da Volkswagen puderam retornar aos seus postos de trabalho no dia 14 de janeiro de 1971, com uma produção diária que variava entre 600 e 800 automóveis, tendo em vista a ampliação para 1.200 nos meses seguintes.
Segundo dados divulgados pelo Diário de Pernambuco, em 23 de outubro de 1975, uma das maiores restituições por lucros cessantes já registradas na história do País foi paga à Volkswagen. A indenização atingiu a cifra de 33,6 milhões de dólares pelo prédio; 285 mil pelos elevadores; 73,5 milhões pelas máquinas; e 150 mil por veículos. Esse recurso garantiu que a empresa mantivesse as operações em andamento enquanto as áreas afetadas pelo incêndio eram reconstruídas.
O serviço de pintura foi terceirizado e “a diferença entre o custo anterior e o efetivamente pago a terceiros foi coberto pelo seguro. Resultado: a empresa não parou de produzir e não sofreu nenhum prejuízo”, afirmou o Diário do Paraná, na edição de 1º de março de 1974 (SEGURO…,1974).
Dois anos mais tarde, em 24 de fevereiro de 1972, um incêndio de proporções alarmantes tomou o Andraus, um dos maiores edifícios comerciais de São Paulo. O prédio abrigava escritórios de grandes empresas, como a Petrobras, Shell, Siemens, Xerox do Brasil, entre outras, que puderam contar com a ajuda das seguradoras para a retomada das operações. As indenizações do seguro incêndio somaram 18,5 milhões de cruzeiros. As Casas Pirani, que tinham uma loja no térreo do prédio, receberam uma indenização adicional de 1 milhão de cruzeiros por lucros cessantes.
No presente não é diferente. Além de proteger diversos empreendimentos em todo Brasil contra incêndios, queda de raios e explosões, o mercado segurador também tem resguardado as empresas de ataques invisíveis, altamente poderosos, em tempos de pandemia.
Segundo o Instituto de Segurança Pública do RJ (ISP), entre os meses de março e agosto os crimes virtuais cresceram 273%, indicando que criminosos têm se aproveitado da pandemia e do aumento das transações digitais para aplicar golpes.
O furto de senhas bancárias através de e-mails, SMS e WhatsApp é uma das principais estratégias dos infratores, que se passam por empresas privadas e bancos solicitando a atualização ou confirmação de informações da conta. O usuário então é redirecionado para uma página falsa, em que são coletadas informações sigilosas.
O e-commerce tem sido alvo constante. Desde março os ataques de phishing cresceram 700% em todo o mundo, segundo a pesquisa da consultoria de estratégia Oliver Wyman. O seguro cibernético, que registrou crescimento de 115% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019, é uma boa resposta à essas investidas, pois ajuda na proteção de dados e a evitar eventuais perdas financeiras em decorrência de violação de privacidade ou de segurança de informações.
Em entrevista à Folha de São Paulo, no mês de outubro, o presidente da Confederação Nacional das Seguradoras – CNseg, Marcio Coriolano, afirmou que vê na atual conjuntura – em que os meios de comunicação remotos são uma realidade entre nós – uma grande oportunidade para o crescimento desta modalidade de seguro no Brasil, e complementa: “A pandemia veio reforçar no brasileiro o sentimento da necessidade do seguro, de finitude, de que as coisas não são permanentes e eternas. Mais do que isso, trouxe o verdadeiro exemplo do que pode ser um risco que afeta pessoas, famílias e empresas” (ALIADO…, 2020).
Edifício Andraus -Relação de sinistros avisados ao IRB. Acervo CEDOM.
